quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Chocolate nas Telas do Cinema

Por que será que o chocolate é totalmente irresistível para a maioria, principalmente do sexo feminino? Não sei exatamente se sou chocólatra, pois por uma questão de opção de gastos chego a ficar um mês sem o comer, mas a verdade é que passar em frente de uma prateleira de chocolates me faz salivar, e quando tenho entre os dedos um pedaço, por menor que seja, e o levo à boca... ah, eu fecho os olhos e faço este momento de êxtase durar o máximo possível! Mas não é qualquer chocolate. Não sãos os incrementados com crocância ou fabulosos recheios que mais me seduzem. Tem que ser o meio amargo! É neste tipo que se encontra a maior concentração de cacau.
Talvez o chocolate apresente substâncias e efeitos que se identificam com o universo feminino. O chocolate se molda às performances da criatividade, apresenta-se numa variada gama de texturas, enfeita-se de brilho e formas, transita entre o amargo e o doce. O chocolate é o amigo silencioso pelo qual se chega a trocar, na conta das calorias, uma refeição completa. É o companheiro de momentos solitários, é a constante opção de um presente de última hora (porque a possibilidade de não agradar é muito pequena), é a representação simbólica da sedução e do prazer, é a válvula de escape para insatisfações ou TPMs.
Se fotos ou comerciais de chocolate já exercem sobre nós uma irresistível atração, quando este se insere no roteiro de um filme e emerge magnificamente em suas cenas, não há como não saboreá-lo com a alma!
Há uma quantidade razoável de obras audiovisuais onde o chocolate ou o cacau atuam, explicita ou implicitamente, como protagonistas, seja em documentários ou no gênero ficção, e entre estes últimos podemos encontrar deliciosos néctares para os olhos e para o coração. Em alguns o chocolate aparece apenas como uma sutil referência, o que acontece, por exemplo, em Chocolate, filme tailandês de 2009, dirigido por Prachya Pinkew, e conta a história de uma menina autista, apaixonada por chocolate e artes marciais.

Em Morango e Chocolate (1993) do cubano Tomás Gutierrez, o título parece mais uma analogia à discussão sobre a liberdade dos ideais e ao entendimento das diversidades (numa época de conflitos políticos e sociais em Cuba), e parece-me que o chocolate aparece apenas numa cena em que os dois amigos, protagonistas, tomam sorvete (de morango e chocolate)numa praça. 


Há ainda os que se voltam mais para o gênero terror ou suspense, como é o caso de Sangue e Chocolate (2007) de Katja von Garnier, onde uma jovem que trabalha numa chocolaterie se vê envolvida pelo segredo dos lobisomens, e Chocolate – O Gosto da Obsessão (2005), dirigido por Mick Garris, conta  a história de um homem melancólico que trabalha como criador de sabores artificiais e de repente se vê envolvido emocionalmente com uma mulher que nunca viu nem sabe quem é, mas para a vivência da qual sua consciência se transporta, repartindo sensações de cheiros gostos e visões, sendo que a primeira acontece com o chocolate.



Há também os filmes dirigidos ao universo infanto-juvenil. A Fantástica Fábrica de Chocolate teve duas versões baseadas no livro Charlie and the Chocolate Factory (1964) do escritor Roald Dahl. A primeira é de 1971, dirigida por Mel Stuart e com Gene Wilder no papel de Willy Wonka, substituído por Johnny Depp na versão de 2005 com direção de Tim Burton. Com algumas alterações, fieis ou não ao livro, a história é o sonho de consumo da maioria das crianças: uma visita ao mundo fantástico das guloseimas. 


Tem ainda A Guerra do Chocolate (2002), com direção de Ian Gilmour, onde um grupo de crianças, ajudadas por uma velha senhora, lutam contra a proibição da fabricação e do consumo do chocolate, numa pacata cidade.



A lista é vasta, mas vale a pena citar A Teia de Chocolate (2000 – Claude Chabrol) uma trama de mistérios e descobertas, que envolve o talento para administrar uma fábrica de chocolate e a paixão pelo piano.


E para finalizar, não poderia deixar de falar do magnífico Como Água para Chocolate, baseado no romance homônimo de Laura Esquivel, dirigido por Afonso Arau (então seu marido) em 1993, um filme recheado de paixões e desejos que atravessam os caminhos do ódio, do egoísmo, da traição ou da total abnegação, num clima metafórico do ritual do consumo do alimento, à mesa, ou da sua preparação, na cozinha. 


Em Chocolate (2000) sob a direção de Lasse Hallstrom, embora a presença de Johnny Depp no papel do cigano Doux atraia o público feminino, o chocolate, manipulado com arte e paixão por Viane (Juliette Binoche), que resolve quebrar os padrões do pacato vilarejo, torna-se, de certa forma, o vetor responsável pelo despertar de Amande, interpreta pela carismática Judi Dench. Neste filme o chocolate derrama-se com aveludado brilho em grande parte das cenas.





Agora faça sua escolha e delicie-se!

terça-feira, 26 de abril de 2011

CHOCOLATE


FICHA TÉCNICA
TITULO ORIGINAL: Chocolat
ANO: 2000
PAÍS DE ORIGEM: Estados Unidos
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 105 min
DIREÇÃO: Lasse Hallström
ELENCO: Juliette Binoche; Lena Olin; Johnny Depp; Judi Dench; Alfred Molina; Peter Stormare; Carrie-Anne Moss; Leslie Caron; John Wood; Hugh O’Connor; Victorie Thivisol


COMENTÁRIO
1959, num lugarejo da França. Foram estes a data e lugar que Lasse Hallström escolheu para situar mais um dos seus filmes cujo tema psicológico centraliza o universo das relações humanas. Diferente de “Minha Vida de Cachorro” e de “Meu querido intruso”, na maneira como aborda o tema, embora ostentando alguns clichês, este filme (indicado para o Oscar de melhor filme) é coberto por uma aura de leveza e simplicidade, com locações simples, (bem ao estilo europeu), apesar da fotografia magnífica de uma paisagem que traduz bem a vida pacata das cidadezinhas do interior da Europa nesta época.
A atuação do elenco se restringe a desempenhar o seu papel sem falhas, sem algo de louvável a acrescentar. Neste aspecto, todo o mérito fica por conta da interpretação de Alfred Molina, (no papel de um nobre prefeito extremamente conservador e ligado a convicções religiosas), e de Judi Dench (que faz uma velha, de certa forma marginalizada pela comunidade e pela filha, a qual a proíbe de ver o neto, por não se encaixar nos padrões do lugar, devido ao seu estilo irreverente).
No inverno deste ano, Vianne (Juliette Binoche) e sua filha, chegam ao lugarejo, onde montam uma “chocolaterie”, e são recebidas com restrições, por tentarem, de alguma forma, romper certos conceitos enraizados na população inerte.
O ambiente criado na “chocolaterie”, a aparência dos chocolates confeccionados por Vianne, e a magnitude com que o faz, quase permitem que o inebriante aroma deste ingrediente exale das imagens do filme, tornando-o uma tentação irresistível. As cenas do jantar comemorativo oferecido por Vianne, transpiram no visual dos pratos, e na leveza de espírito que vai tomando conta de todos, um mistério que seduz a alma e o paladar.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Vatel - Um Banquete para o Rei


FICHA TÉCNICA
TITULO ORIGINAL: Vatel
ANO: 2000
PAIS DE ORIGEM: França/Reino Unido
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 119 min
ROTEIRO: Jeanne Labrune/ Tom Stoppard
TRILHA SONORA: Enrio Moricone
DIREÇÃO: Rolland Joffé
ELENCO: Gerard Depardieu; Uma Thueman; Tim Roth; Julian Glover; Julianh Sands
COMENTÁRIO
Baseada em fatos, a história se discorre na França do século XVII, no palácio de Chantilly. O príncipe de Condé (Julian Glover), que passa por dificuldades financeiras, resolve promover uma estadia suntuosa para o rei Luis XIV (Julian Sands), e toda a corte de Versailles. A recepção para o rei precisa romper os limites de qualquer expectativa, há que levar ao êxtase todos os seus sentidos e da sua corte! O espetáculo das cores, dos movimentos, dos aromas, dos sabores, dos tons e dos sons está a cargo do sonhador, e não menos brilhante, Vatel (Gerard Depardieu), uma espécie de chefe de cerimônias do príncipe, o qual existiu na verdade, como “atendente” do mesmo.
Permeando o jogo de interesses e o deleite da nobreza há a sutil sensualidade dos encontros entre Vatel e Anne de Montausier (Uma Thurman).

Embora a trilha sonora conserve toda a qualidade que cabe a Enrio Morricone, os figurinos estejam impecáveis, e a direção de arte tenha conquistado um César e sido indicada ao Oscar, o roteiro não chega a inspirar elogios, e por isso a atuação não vai além do trivial, abrindo uma exceção, é claro, para Depardieu, que se encaixa como uma luva no personagem, e do qual transpira toda a emoção que pode ser delegada a este filme. Vatel é um artista que faz a alma desabrochar num êxtase de todos os sentidos. A tecnologia e criatividade, empregadas nas apresentações feitas para o deleite visual e auditivo da corte francesa, são magníficas e inovadoras para a época, mas a verdadeira poesia de Vatel é exalada na cozinha e derramada sobre os alimentos, para depois ser declamada em aromas e sabores que arrancam suspiros ao paladar. Vatel é um regente, no comando de uma orquestra onde os ingredientes são os instrumentos, enquanto a sua sensibilidade e criatividade determinam com magistral precisão, as notas que comporão a sinfonia a ser saboreada. É inevitável envolver-se pelo momento em que ele, como sensível artesão confeiteiro, inspirado pela paixão por Anne Montausier, esculpe em açúcar, uma jarra com duas flores.

 

TOMATES VERDES FRITOS



FICHA TÉCNICA
TIUTLO ORIGINAL: Fried Green Tomatoes
ANO: 1991
PAÍS DE ORIGEM: Estados Unidos
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 125 min
TRILHA SONORA: Thomas Newman
ROTEIRO: Fannie Flag
DIREÇÃO: Jon Avnet
ELENCO: Kathy Bates; Mary Stuart Masterson; Marie-Louise Parker; Jessica Tandy; Gailard Sartain; Stan Shaw; Cicely Tyson
COMENTÁRIO
Baseado no livro de Fannie Flag, e dirigido com extrema sensibilidade, neste filme, questões como a discriminação racial, a violência doméstica, a liberdade, a terceira idade, e a recuperação da auto-estima, são tratadas sem exageros mas com determinação.
Thomas Newman contribui com a boa trilha sonora, e os atores principais (de reconhecido talento), assim como os coadjuvantes, deixam aqui a marca de uma magnífica interpretação. Duas histórias movidas a sentimento e luta, corridas em épocas diferentes, vão se intercalando à medida que Minnie (Jessica Tandy), em um asilo, ao encontrar com Evelyn (Kathy Bates), que está de passagem, como visita, vai abrindo o livro do passado.
Tomates verdes fritos, (uma receita extremamente simples, mas de dar água na boca), eram servidos a quem freqüentava o Café dirigido por Idgie e Ruth, cujo churrasco se classificava como o melhor das redondezas.
Apesar do titulo, a gastronomia apenas atua como coadjuvante, mas aos apaixonados por esta arte, não passarão desapercebidas as cenas onde a câmera se fixa nos pratos das refeições que Evelyn prepara para o seu marido, ou nos ingredientes da cozinha do Café, inclusive quando estes são usados fora do contexto da sua finalidade, e viram instrumento de uma brincadeira entre Ruth e Idgie, a sua aparência se exalta e desperta o paladar.